Era uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela.
O pai meteu-se num barco e remou para longe.
Quando chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas.
Segurou o astro com as duas mãos, com mil cuidados. O planeta era leve como uma baloa.
Quando ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamundo.
A lua se cintilhaçou em mil estrelinhações.
O mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo.
A praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal.
A menina se pôs a andar ao contrário em todas as direções, para lá e para além, recolhendo os pedaços lunares. Olhou o horizonte e chamou:
— Pai!
(…) E foi assim. Essa foi uma vez.
Mia Couto