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O príncipe sem sonhos

Posted on Agosto 16 by contadores.destorias

Thiago era um príncipe sem sonhos. Pelo menos ele dizia isso. Passava o dia triste, porque já tinha tudo. E, se já tinha tudo, como poderia sonhar?

Às vezes, ele até tentava. Mas nem dava tempo.

Mal o príncipe começava a sonhar, e pronto: os seus desejos se realizavam. Não chegavam nem a se tornar um sonho de verdade, daqueles que a gente cultiva com todo o cuidado, como uma semente preciosa, num jardim secreto, só nosso.

Preocupados com a tristeza do filho, a rainha e o rei faziam de tudo para vê-lo feliz. Porque eram muito amorosos e não entendiam o porquê desse sofrimento.

Thiago realmente tinha tudo o que se pode imaginar: uma criação particular de unicórnios, dragões de estimação, fábricas de chicletes mágicos, tapetes voadores com piloto automático, amigos que gostavam dele, súditos que o serviam sem raiva, heranças e mais heranças.

Com o que Thiago poderia sonhar?

Com uma princesa dessas de contos de fadas?

Não, sinceramente não.

Thiago ainda não tinha tempo para princesas.

De jeito nenhum ele deixaria o futebol com a galera e as bolas de gude para ficar com uma princesa.

Não era esse o seu sonho.

Na realidade, ele não sabia qual era o seu sonho.

Se é que tinha algum.

E isso o deixava realmente triste.

Por mais que se esforçasse, não conseguia ver nada para sonhar.

E se não conseguia ver nenhum sonho, era porque não existia.

Será?

Ele não sabia responder.

Certo dia, exausto de tanto tentar sonhar, o príncipe resolveu pedir um conselho ao seu avô, um bruxo aposentado, que vivia longe das badalações do castelo. Fazia tempo que eles não se viam.

Foi um abraço tão longo e tão grande que dava para cobrir todo o reino.

— Vô, eu preciso sonhar com alguma coisa. Todos os meus amigos têm sonhos. Eu não tenho nenhum.

— Como você tem certeza disso?

— Por mais que eu tente, não consigo ver nenhum sonho que seja só meu. E, se não vejo nenhum, é porque eles não existem. Tô certo?

Sem dar uma palavra, o avô pegou Thiago pela mão, foi com ele até à varanda. Lá, havia um sofá mais macio que pele de bebê. Eles sentaram e respiraram juntos o cheiro de uma chuva que se aproximava.

Naquele instante, o tempo estava com cara de cofre, fechado a sete nuvens. Abertos só estavam o sorriso do avô e o coração ansioso do príncipe.

— Thiago, dê uma olhada neste céu estrelado. Não é maravilhoso? — perguntou o avô, com ar de provocação.

— Vô, acho que você tá precisando mudar o grau dos óculos. Não tem nenhuma estrela no céu.

Com o mesmo sorriso escancarado, o avô apontou para o céu e disse a Thiago:

— Meu querido, o céu está estrelado sim. Você é que não está vendo as estrelas. Esse é um antigo provérbio árabe: “Não diga que o céu está sem estrelas só porque às vezes você não as enxerga…”

Sem tirar os olhos do céu, no colo mais aconchegante do mundo, Thiago escutava o avô completar aquele pensamento:

— Seus sonhos são como as estrelas, menino. Eles estão aí, mesmo que você não consiga ver nenhum. Mesmo que as nuvens os escondam, eles estão aí. Preste atenção: você já tem tudo o que quer. Mas ainda não é tudo o que pode ser. Um dia você vai saber a diferença entre ter e ser. Não se preocupe com isso agora…

Ah, essa era uma conversa para dias e dias.

Qual a diferença entre ter e ser? Thiago ainda não sabia. Já era tarde demais para raciocinar sobre uma coisa dessas.

O sono chegava a galope e Thiago adormeceu, com um sorriso diferente, sereno.

Será que ele estava finalmente sonhando?

Só saberia quando acordasse.

— Afinal, menino, os melhores sonhos são aqueles que continuam de outro jeito, quando a gente desperta — disse o avô, bem baixinho, já quase apagando também.

Márcio Vassallo
O príncipe sem sonhos
Brinque-Book, São Paulo, 2006

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