Exposição de flores

Aqui perto, houve uma exposição de flores. De flores naturais, fiquem sabendo. Nem fazia sentido que a exposição fosse de flores de plástico. Ou de pano. Ou de papel. Ou de flores pintadas em quadros.

As flores, em qualquer jardim, estão sempre em exposição.

– Admirem as nossas cores – dizem as rosas.

– Apreciem o vigor do nosso caule e a elegância da nossa corola – dizem os jarros, a que os brasileiros chamam “copos de leite”. Porque será?

– Extasiem-se com a delicada pintura das nossas pétalas – dizem os amores-perfeitos.

As flores de jardim são umas vaidosas. Na exposição, dispostas em jarros ou em vasos, encantavam quem por elas passava.

À entrada, mas do lado de fora do festival das flores, uma papoila chama-me a atenção.

– Não me deixaram entrar – queixou-se ela. – Dizem que a exposição é só para flores cultivadas. Acho uma injustiça.

Também achei o mesmo. Por isso, para repor a justiça e homenagear as flores do campo, que têm tanto de humildade como de beleza, peguei na papoila e prendi-a na lapela. Depois, entrei na exposição como se trouxesse ao peito uma condecoração de fazer inveja a generais.

Houve escândalo entre as flores a concurso.

– O que é que esta paspalhona provinciana tem de estar aqui a exibir-se? – perguntavam umas às outras.

Mas os visitantes da exposição olhavam para nós – para a papoila e para mim – e sorriam.

A minha papoila, muito ruborizada, sentia-se a rainha da festa. Nunca concentrara sobre ela tantos olhares, tanta atenção, tanta simpatia. Era emoção demais para uma papoila tão frágil. Antes que eu chegasse ao fim da exposição, as pétalas da minha papoila voaram. Para onde?

Não importa. Aquele tinha sido o momento mais glorioso da sua curta vida.

António Torrado

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