Pi-shu, o pequeno panda
Nas encostas da Montanha Amarela, na China, uma mãe panda fazia festas à sua cria. Escondida no tronco oco de uma velha árvore, lavava-a e alimentava-a com o seu leite quentinho, enquanto o filhote se aninhava contra o seu pelo suave e espesso. O nome da cria era Pi-shu e o seu tamanho não era maior do que uma das manchas que rodeavam os olhos da mãe.
Tinha nascido com uma caudazinha cor-de-rosa, que desapareceria quando crescesse. A mãe, Fei-fei, achava-o o panda mais bonito que já vira.
Pi-shu nunca era deixado sozinho durante muito tempo e Fei-fei embalava-o com frequência nos seus braços fortes.
À medida que o filhote se transformava numa bolinha peluda, Fei-fei costumava transportá-lo às costas. Quando tinha seis meses, começou a andar sozinho e a copiar a mãe mastigando bambu, cujo gosto amargo gostava de sentir na boca. Três meses mais tarde, deixaria de mamar.
Por volta do seu primeiro aniversário, já Pi-shu era forte e aventureiro. Em toda a parte via coisas com que brincar… árvores para trepar… rãs que saltavam quando ele as cheirava… ratazanas que jogavam às escondidas dentro e fora das tocas.
Um dia, quando as tempestades do início do Inverno se fizeram sentir nas montanhas, Pi-shu viu um bando de macacos no cimo das árvores. Seguiu-os, enquanto saltavam graciosamente de ramo em ramo.
Ia atrás deles o mais depressa que podia. Nunca tinha ido tão longe e, à medida que caminhava por entre os fetos densos, apercebeu-se de um cheiro que o fez hesitar. O cheiro provinha de um barulho de que não gostava, acompanhado por vozes que lhe eram estranhas.
Pi-shu estacou quando um baque tremendo fez estremecer o chão que pisava. Caíra uma árvore. Espreitando por entre os fetos espessos, viu, com espanto, que estava na orla da floresta. As árvores tinham sido todas abatidas para dar lugar a plantações de arroz e milho, e havia homens a abaterem mais árvores para arranjar lenha para as fogueiras do Inverno. Assustado, Pi-shu correu em busca da mãe.
Passou por entre a vegetação rasteira, apavorado com a ideia de se ter perdido, e chegou a uma pequena clareira, onde quase esbarrou com uma takin, que pastava com a sua cria. Olharam-se fixamente até que Pi-shu fugiu dali, em busca da mãe.
Quando Pi-shu encontrou Fei-Fei, esta viu que o filho estava muito assustado. Soube logo que esta zona da floresta já não era segura e que era tempo de saírem dali.
Na manhã seguinte, bem cedo, mãe e filho partiram, subindo colinas sem cessar, até que alcançaram o topo de um planalto envolto em brumas. O seu pelo oleoso mantinha-os quentes, mas passar por cima das rochas escorregadias não era tarefa fácil, especialmente para o pequeno Pi-shu.
Sem nada para comer, e com as primeiras neves a cair em torno deles, mãe e filho atravessaram o prado a caminho do próximo vale, onde encontraram um pequeno bosque de bambus. O local parecia sossegado e tranquilo. Aninhados contra um rochedo duro e frio, dormiram o melhor que podiam.
Acordaram no dia seguinte, no meio de uma manto de neve, e desceram devagar a encosta íngreme que conduzia ao vale. Enquanto desciam, iam alimentando-se de bambus.
Era já noite quando atingiram o sopé da montanha. Encontraram um riacho de água cristalina mesmo junto de uma pequena mata de bambus. Comeram até à saciedade e adormeceram, contentes, enquanto caía a noite.
Pi-shu gostaria de encontrar a sua própria casa quando crescesse e de subir as suas próprias montanhas. Por ora, porém, não mudaria nada na sua vida, nem em troca de todo o bambu da China.
John Butler
Pi-shu, the little panda
London, Orchard Books, 2001
tradução e adaptação