Maria Rosa está sempre na lua
Maria Rosa parecia estar sempre com a cabeça noutro lugar. Na Lua, em Júpiter, em Marte, ou em Vénus… Onde quer que fosse, estava sempre muito longe da Terra. Quando o professor a mandava ao quadro, ela ia para o recreio. Quando lhe pedia que recitasse poesia, Maria Rosa cantava uma canção. Quando era hora de ir almoçar, vestia o fato de ginástica. Na aula de Educação Física, olhava para a bola com ar sonhador… e esquecia-se de jogar. De manhã, punha o pijama no congelador e comia, em vez de cereais, uma taça de mel. Escovava os dentes com um tubo de maionese e punha as cuecas na cabeça, como se fossem um gorro.
— Meu Deus, Maria Rosa, onde tens a cabeça? — perguntavam os pais.
O pai, que era controlador de tráfego aéreo, puxava-lhe as orelhas com frequência.
— Já pensaste na quantidade de aviões que se despenharia, se eu estivesse sempre a pensar noutra coisa, como tu? Onde estás com a cabeça, Maria Rosa?
Esperto seria quem soubesse a resposta. Estaria na Lua, em Marte, ou em Júpiter? Às vezes, a menina estava triste, outras vezes aborrecia-se. Mas pensava sempre:
— Um dia, hei-de viajar até outros planetas. Serei astronauta.
— Astronauta? — ria-se o pai. — Pensa mas é em ser professora de Geografia. Já seria muito bom. Para se ser bem-sucedido na vida, minha filha, não se deve sonhar muito.
Maria Rosa tentou esforçar-se para vir a ser professora de Geografia. Na escola, franzia a testa para melhor ouvir o professor. Mas só conseguia estar atenta dois segundos, porque logo o seu espírito voava até uma qualquer nuvem cinzenta. O professor sabia que aqueles olhos sonhadores indicavam que ela não o ouvia, porque as crianças demasiado bem-comportadas tentam ser bem-comportadas, mas não ouvem.
Um dia, o director da escola chamou os pais de Maria Rosa.
— O comportamento da vossa filha não é normal. Aborrece toda a gente. É insolente.
E matraqueava as sílabas, de tal forma temia que os pais não o ouvissem. Mas os pais de Maria Rosa estavam direitos como um fuso. Como trabalhavam muito, não tinham tempo para sonhar, nem sequer para imaginar. Talvez fosse por isso que a filha sonhava tanto. Ao sair do gabinete do director, o pai disse a Maria Rosa:
— Desiludes-me.
O que significava que ela não era como ele, como ele queria que ela fosse.
Maria Rosa esforçava-se, mas a nuvem cinzenta na sua cabeça levava-a para cada vez mais longe. Era como se, à menor hipótese, o seu espírito descolasse para bem longe dali. Sempre era melhor do que aborrecer-se, não era? E sempre era um mundo melhor do que este mundo aterrador, onde é preciso aprender a contar e a ler, e vigiar o paradeiro dos aviões no céu, como se não pudéssemos deixar os pobres aviões seguirem a sua própria rota.
— Quando for grande, serei astronauta — dizia Maria Rosa.
Quando cresceu, Maria Rosa começou a ler livros, a ouvir música, a tocar violino, e a compor belas melodias. Passou-lhe de vez o desejo de ser astronauta. Num ápice. Isso e as suas distracções. Do dia para a noite, passou a encher a taça de cereais, em vez de mel; a escovar os dentes com dentífrico de morango, e não maionese; nunca mais guardou o pijama no congelador; e punha belos chapéus na cabeça em vez de cuecas a fazerem de gorro.
Algumas crianças têm a cabeça bem na terra, mas outras ─ porque os pais discutem, porque não se sentem bem na escola, porque se aborrecem, ou por razões que não nos dizem respeito ─ estão sempre na Lua, em Júpiter, em Marte, em Urano ou, se calhar, apenas numa grande nuvem cinzenta. Num mundo onde se sentem melhor, mais seguras. Às vezes, tocam piano, lêem livros, jogam xadrez. Seja como for, estão onde devem estar e é isso que interessa.
Analise o tipo de distracção do seu filho. Será positiva (a criança pensa, gosta de brincar, está absorta em dada actividade) ou negativa (tem um ar triste e angustiado, está sozinha)? Fale com a professora ou mesmo com o pediatra.
Ajude ao seu filho a ter um bom ritmo de vida. Ajude-o a deitar-se cedo. As etapas do sono são indispensáveis à concentração.
Atenção à televisão! Nada de televisão de manhã nem à noite. Não se trata de demonizar o pequeno ecrã, mas de o reservar para tempos precisos: o fim da tarde, depois dos deveres e antes do jantar, ou para dias chuvosos.
Nada de actividades extra-escolares em excesso. A capacidade de concentração de uma criança diminui quando tem uma “agenda” sobrecarregada. A criança precisa de tempo para sonhar.
Nada de obsessões: nunca espere que a criança esteja concentrada durante mais tempo do que a sua idade permite (30 minutos aos seis anos, 40 minutos aos dez, 45 minutos aos onze).
Fale com o seu filho. Diga-lhe coisas como:
“Às vezes, estamos num mundo muito nosso. Ou não estamos contentes connosco mesmo, ou então estamos mesmo concentrados numa coisa de que gostamos.”
“É bom ter tempo para sonhar; é agradável imaginar coisas, possíveis ou impossíveis. Mas também é preciso “descer à terra” e concentrarmo-nos no que estamos a fazer. Na escola, quando escutas o que a professora está a dizer, ou quando brincas com os teus colegas, tens de estar atento ao que estás a fazer.”
“Tens o direito de ter segredos e de estar no teu cantinho. Mas se estás triste, se tens preocupações, gostava que me contasses. Estou sempre aqui para te ouvir e para te aconselhar.”