O Pedrito Coelho muda de coelheira
Numa bela manhã de Primavera, o Pedrito Coelho decidiu mudar de coelheira. Disse à mulher, a Coelha Joana:
— Os nossos seis coelhitos cresceram tanto que já não cabemos aqui.
Tinham comprado aquela casa quando eram uma casal jovem e sem filhos. Mas, entretanto, tinham chegado Emílio, Arsénio, Onésimo, Edgar, Apolino, e Leopoldina. Agora viviam com dificuldade entre brinquedos, livros, animais de pelúcia e escorregavam em cascas de cenoura.
— Temos de encontrar uma solução. As crianças discutem e nós abafamos. Precisamos de espaço. Cada um deles precisa do seu quartinho.
Pedrito Coelho pôs tampões nos ouvidos, sentou-se à secretária, pegou na sua caneta mais bonita e escreveu:
Procuro coelheira espaçosa, calma e aconchegante para família numerosa. Longe de caçadores e espingardas. Se possível, perto de todo o tipo de lojas e de cenouras.
Alguns dias mais tarde, a vizinha Toupeira veio visitá-los. Os seus filhos tinham ido para um campo ali perto e a sua galeria tinha-se tornado demasiado grande. Propôs-lhes:
— E se trocássemos de casa? Vocês ficam a ganhar!
Os bigodes de Pedrito Coelho e da Coelha Joana tremeram de alegria. Meu dito, meu feito. A família foi toda junta visitar a nova casa. Os nossos seis coelhitos estavam radiantes, porque as casas das toupeiras estão cheias de recantos. Havia sete quartos: um para cada filho e um para os amigos.
— Eu vou proibir todas as visitas ao meu quarto — anunciou Onésimo, o irmão mais velho, com quase sete anos.
— Eu vou convidar-vos para tomar chá de salsa — sussurrou Arsénio, o mais novo.
— Eu vou pôr música todo o dia — disse Leopoldina, que tocava violino.
— E eu vou só fazer o que me apetecer — disse Apolino, que era muito teimoso.
Mudaram de casa no dia seguinte. No andar de cima, arranjaram uma sala grande para jogar com os amigos. À medida que os dias passavam, tudo se ia organizando. É claro que tinham de se habituar ao facto de a casa ser mais escura, já que as toupeiras cavam bem fundo, mas também era uma casa mais calma. Nunca se ouvia uma espingarda. O cheiro também não era o mesmo. Aqui cheirava a madressilva e na casa anterior a avelã. Onésimo queixou-se:
— É preciso algum tempo para que uma casa mude de cheiro − a mãe sossegou-o.
Quando Arsénio pensava na antiga casa, o seu coração entristecia:
— Tinha tantos amigos. Agora temos um quarto para amigos mas ninguém lá dorme.
Leopoldina tinha pesadelos desde que tinham mudado de casa. Tinha medo de estar sozinha no quarto.
— Dantes estávamos sempre juntinhos. Agora estou sozinha, embora o quarto seja maior.
Quanto a Edgar, que era o mais sentimental de todos, sentia saudades de tudo: do perfume de avelã, do tecto de folhas, das raízes do grande carvalho que lhes serviam de banquinho, da luz, do canto matinal dos pássaros… De tudo!
— É preciso algum tempo para nos habituarmos — repetia a mãe, para quem as coisas também não tinham sido fáceis.
Todos os seus filhotes tinham nascido na casa antiga. Esta casa parecia um palácio de gelo.
— Falta-lhe calor, risadas, cantigas, danças — pensava Pedrito Coelho. — Tive uma ideia! — anunciou. — Porque não dar uma festa e convidar os vizinhos antigos e novos?
No domingo seguinte, vieram todos os antigos amigos. A Senhora Toupeira também veio com os filhos. Quando chegou e viu o quanto a sua antiga casa tinha mudado, foi chorar para um canto, tendo o cuidado de esconder as lágrimas no fundo dos seus olhos de míope. E pensou:
— Meu Deus, como é difícil mudar de casa! Era tão feliz aqui!
A Coelha Joana, que a viu a chorar no canto, tentou consolá-la e pensou que não era fácil para ninguém mudar de casa. Mas a festa, cheia de risadas, de canções e de danças, trouxe àquela casa o que lhe faltava: um pouco de calor e de amizade. Quanto aos coelhinhos, não tardaram a fazer novos amigos, a explorar e a conhecer melhor os recantos secretos do jardim e os melhores lugares para jogar às escondidas. Aos poucos, a sua casa tornou-se na casa mais bela do mundo.
— Cheira tão bem aqui!
— Está-se tão bem! É quentinha a nossa casa.
Também Leopoldina acabou por dizer:
— Estou tão contente por dormir sozinha no meu quarto.
— É normal — comentou a mãe. — Todos vocês cresceram. E eu sinto-me muito orgulhosa de ver-vos crescer!
*
Para a criança, a casa representa o ventre materno, o pequeno ninho onde sabe tão bem repousar. É por isso que as mudanças de casa são momentos de tristeza e de alegria. Alegria, porque correspondem à necessidade de surpresas de que elas são tão ávidas. Tristeza, porque a mudança tem a ver com separação. A criança precisa de referências e, de repente, essas referências tornam-se flutuantes. Precisa de fazer um semi-luto, sobretudo se nasceu e cresceu na casa onde morava.
Evoque as vantagens da mudança, o aspecto de “prenda” que a mudança encerra: o sítio é mais animado, a casa é mais espaçosa, terá um quarto só para ela. Não a force a passar um traço sobre a vivência anterior. A criança precisa de um período de aclimatação, de continuar a ver os amigos, mesmo que isso implique deslocações. Não mudou de vida: mudou de casa.
Se muda também de escola, dê-lhe tempo para se habituar. O ideal seria ir buscá-la à escola, pelo menos no início do ano, para conhecer os novos colegas e os pais deles.
Não a bombardeie com perguntas sobre se já fez amigos. Encoraje-a a continuar a ver os antigos, a juntar novos e velhos colegas numa festa. É uma boa forma de estabelecer uma ligação entre a vida nova e a antiga.
Fale com ela. Pergunte-lhe se gosta da casa nova, se pensa na antiga, se tem pena de ter mudado ou se está contente por ter mudado.