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A angústia do domingo à noite

Posted on Janeiro 21 by contadores.destorias

A angústia do domingo à noite

Naquele fim de tarde, o ar estava cálido no Jardim dos Pássaros. O sol a pôr-se parecia uma bola de fogo laranja. Era um espectáculo soberbo, um quadro que dava aos tentilhões vontade de assobiar. Contudo, nessa tarde, o tentilhão Turlutu não tinha nenhuma vontade de cantar. Um arrepio agitava as suas plumas. Tinha calor, tinha frio, e sentia um nó na garganta, o que o impedia de respirar. Enfiou o bico nas plumas, um comportamento típico dos tentilhões, quando precisam de se tranquilizar. As avestruzes, por exemplo, metem a cabeça debaixo da areia. Fez-se então ouvir uma vozinha, saída daquelas plumas, que murmurava “Mamã”…

Dona Mimi pousou a coberta de gravetos que estava a tricotar com o bico e perguntou:

— O que queres, meu filho?

O pequeno tentilhão respondeu:

— Tenho dores de barriga… Estou com gripe… Estou doente… Não posso ir à escola amanhã e tu não vais poder ir para o escritório.

Dona Mimi envolveu o seu pequenino na grande asa castanha e sentiu o quão assustado ele estava.

— Isto está mal… — comentou.

E apalpou-lhe a testa.

— Estás a escaldar!

Dona Mimi estava a brincar, mas não totalmente. Conhecia o filho como a palma das plumas e sabia bem o que o fazia sentir-se doente. O que lhe dava febre era a ideia de ter de voltar à escola no dia seguinte, segunda-feira. E não será isso normal quando se é um tentilhão minúsculo? Um tentilhão minúsculo que adoraria ficar mais tempo com a mãe, sem que o viessem arrancar do ninho.

Para dizer a verdade, Dona Mimi também não apreciava as noites de domingo. Após dois dias passados em conjunto, perturbava-a sempre ter de deixar o seu filhote. Às segundas, também ela tinha de ir trabalhar num fabricante de ninhos de luxo. Adorava a sua profissão, mas a separação era-lhe sempre difícil. As separações eram, para ela, a coisa mais difícil da vida, mas ninguém lhes podia escapar. Não era sempre preciso separar-se da mãe para ir dormir, para procurar comida, ou para ir a uma festa de anos? Dona Mimi fingiu uma alegria que não sentia:

— Ora vamos lá a ver. A escola não é uma coisa assim tão dramática. Tens muitos colegas: a andorinha Aninha, o pelicano Palminho, o mocho Coxinho.

Turlutu choramingou:

— Esse já não é meu amigo. Outro dia, fez-me cair da árvore. Estou doente, mamã. Chama o médico.

— Irei falar com a tua professora, para que não te apoquentem mais. O que achas?

— Não chega. Não quero ir à escola. A escola é grande e fria. Ficamos sentados no nosso ramo o dia inteiro. E a professora não nos faz festinhas quando queremos.

— Isso não me parece justo, de facto. Penso que a tua professora devia dar-vos um pouco mais de mimo. Mas sabes que, quando cantas uma canção nova, decoras um poema, ou aprendes novas palavras, isso funciona como um miminho para mim? E um miminho dos grandes!

— Na escola, não podemos brincar como queremos — resmungou o pássaro. — Não podemos voar como queremos, nem sequer passear.

— Na escola, aprendes a cantar e a voar — retorquiu Dona Mimi. — É muito engraçado e útil. Quando souberes voar sozinho, podes voltar sozinho para casa. Num golpe de asa. Um voo de tentilhão torna a escola e o ninho muito próximos.

— Isso não é mau de todo!

— Mas só pode realizar-se se aprenderes a fazê-lo na escola.

Mimi Tentilhão suspirou de alívio. Pensava no dia em que o filho, já grande, traria as primeiras boas notas para casa: 20 em voo rasante, 20 em voo directo, 20 em apanha de vermes em pleno voo ou em terra…

— Também não gosto da cantina — continuou Turlutu. — Os grãos são secos e as pequenas minhocas não são tão tenrinhas como em casa.

— Então, filho, não inventes desculpas falsas — pediu a mãe, que sabia cozinhar como ninguém. — Vou contar-te um segredo: penso tantas vezes em ti durante o dia que, às vezes, até tenho a sensação de estar a teu lado no teu ramo. É isso que torna menos difícil a nossa separação. Quando uma criança sabe que os pais, onde quer que estejam, pensam nela, fica logo com as plumas quentinhas. Mesmo que tenha discutido com um colega ou que tenha brigado no recreio.

Basta pensar no seu ninho, que é, para ela, o coração do mundo: é tão quentinho e confortável! Nunca se está sozinho. Penso muito na nossa casinha durante o dia e é isso que me dá coragem para trabalhar. E quando chega a noite, fico tão contente de te rever que o meu coração salta de alegria. Às vezes, precisamos de nos separar um pouco para ter o prazer de nos revermos no nosso ninho bem quentinho. Só por isso a ida à escola já vale a pena. Não achas, meu Turlutu?

Virou-se para o filho que, entretanto, tinha adormecido. O seu coraçãozinho batia docemente. Já não tinha calor, nem frio. Sentia-se tranquilo. E, nos seus sonhos, tinha vontade de crescer.

 

Indicações aos pais e educadores

A adaptação ao infantário é dolorosa para crianças e pais. Para atenuar a dificuldade da separação, fale-lhe, logo pela manhã, do dia que o espera, leia com ele o menu da cantina, fale-lhe da pessoa que o vai buscar, das alegrias que o esperam depois da escolinha, do lanchinho que preparou para ele. São rituais que o ajudam a ultrapassar a angústia da separação. Incentive-o a levar para o infantário um livro ou um filme que possa partilhar com a professora.

 Faça com que seja ELE a dizer adeus. Ao fazê-lo, está a dar-lhe o controlo da situação. Se forem os pais a dizer adeus, isso pode reforçar nele o estatuto de “vítima”. Bem sabe que as crianças não demoram a secar as lágrimas mal se despede delas.

Diga-lhe que também sente pena de o deixar (se for verdade): “É normal, passámos o fim-de-semana todo juntos. É normal que sintas pena. A separação é sempre difícil.”

Explique-lhe que só estão separados fisicamente:

“Em pensamento, estou sempre contigo. Sei tudo o que fazes: quando vais comer, quando vais dormir, a que horas estás no recreio. Quando penso em ti, na tua salinha, com a tua professora amorosa, fico muito contente, porque sei que estás bem. E o que vais poder contar-me logo à noite vai ser uma surpresa e uma alegria para mim.”

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