Alexandre

 in: Terra do Nunca, 29. Jan. 2006
Suplemento do Jornal de Notícias
(história adaptada)

Era uma vez um menino chamado Alexandre. Ele tinha um problema: quando estava a brincar, todas as crianças que andavam por perto, também queriam brincar com os seus brinquedos. Se o Alexandre estivesse a brincar com um carrinho, lá vinha a Mariana a chorar pelo carrinho. Se o Alexandre se interessava pela bola, a Mariana mudava logo de ideia. Cansava-se do carrinho e dizia que queria… adivinhem o quê?… A bola!

E o problema não era só com a Mariana. Quando o Alexandre lia um livro, o João interessava-se pelas figuras. Bastava que ele pagasse num daqueles brinquedos de montar, para que o Paulo chorasse de inveja. Um dia, o Alexandre estava a brincar no baloiço, quando chegou um menino duas vezes maior do que ele.

— Levanta-te daí que eu quero andar de baloiço! — disse o rapaz, que não era nada simpático.

Alexandre pensou contar à mãe, mas olhou à volta e não encontrou nem o pai, nem a mãe, nem a tia, nem a avó, nem o avô…

Sendo assim, recorreu à última arma que lhe restava: chorar. Chorou, chorou e chorou, até quase perder o fôlego. Mas adiantou de alguma coisa? O menino, comovido, cedeu o lugar no baloiço e até se ofereceu para empurrar?

Qual nada! O menino ficou foi furioso e fez tais caretas, que o Alexandre saiu a correr num pinote.

O Alexandre ficou tão triste, que se sentou sozinho a fazer beicinho para uma margarida do jardim.

Qual não foi a sua surpresa quando, de trás da margarida, saiu um homenzinho verde.

— Olá, homenzinho verde!

Ele estava tão curioso, que até se esqueceu de fazer beicinho…

— Olá — respondeu o homenzinho verde. — Posso saber porque estás a chorar?

— É que tenho um problema muito sério…

— Hum… e que problema é? — perguntou o homenzinho verde.

— É que eu quero brincar…

— Isso não me parece um problema — analisou o homenzinho verde.

— E não é. O problema é que, todas as vezes que eu escolho um brinquedo, aparece outro menino interessado nesse brinquedo.

— Hum… isso é um problema sério — admitiu o homenzinho verde.

— Sabes o que eu queria? Que todas as pessoas desaparecessem para eu poder brincar sozinho com todos os brinquedos. Podes fazer isso?

O homenzinho verde pensou. Coçou o queixo umas tantas vezes, até que respondeu:

— Está bem, pode ser.

No momento seguinte, o Alexandre olhou em volta e não viu mais ninguém. Não ouviu conversas nem o ganido metálico das bicicletas em movimento. Silêncio. Meio desconfiado, aproximou-se dos brinquedos. Sentou-se no baloiço e ficou à espera que aparecesse algum menino três vezes maior do que ele, interessado em baloiçar.

Mas, estranho… não apareceu nenhum menino maior e muito menos menor do que ele. O Alexandre aproveitou. Balançou até enjoar. Depois foi até ao escorregão e nem teve de se pôr na fila.

Para dizer a verdade, ele brincou com todos os brinquedos do parque.

Comeu chocolate e um algodão-doce do tamanho de uma melancia. E nem pagou porque, afinal de contas, não havia ninguém para lhe dar o troco.

Depois. Foi para casa e, como viu ninguém, pôs-se a brincar com tudo o que os pais o tinham proibido de mexer. Só ao fim de algum tempo percebeu que não havia ninguém nem em casa, nem na rua, ou no parque.

O Alexandre, então, pegou num jogo de dominó e tentou brincar. Mas tinha alguma graça, brincar sozinho? Não tinha, não. Isso é uma coisa que toda a gente que já jogou dominó sabe.

Tentou ainda outros brinquedos, mas era muito estranho brincar sozinho. Assim, lançou mão do seu último recurso: chorou, chorou e chorou, até que os seus olhos ficaram vermelhos.

Foi quando voltou a aparecer o homenzinho verde:

— Então? Já estás a chorar outra vez?

— É que não tenho ninguém com que jogar — respondeu o Alexandre.

— Mas é claro! Não querias que todas as pessoas desaparecessem?

— Mas não tem graça nenhuma brincar sozinho. Quer dizer… de vez em quando, tem, mas sempre, não. Podes fazer com que todas as pessoas voltem de novo?

— Sim, acho que pode ser feito — resmungou o homenzinho estalando os dedos.

No instante seguinte, o mundo ficou cheio de sons. O Alexandre podia ouvir os televisores ligados, as conversas, as crianças a brincar…

Sabem o que fez? Pegou no dominó e foi jogar com a Mariana.

Gian Danton

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